A nosso favor ou contra nós, em algumas alturas da nossa
vida apodera-se de nós um sentimento de culpa. Se a interpretação da culpa nos
servir, nos engrandecer e for adaptativa e adequada funcionará certamente como um elemento para o nosso desenvolvimento pessoal.
No entanto, muito de nós sentimo-nos culpados com bastante frequência
levando-nos para caminhos auto depreciativos e destrutivos. É uma parte natural da vida e
realmente desempenha uma função adaptativa que nos ajuda a aprender com as experiências
dolorosas ou assustadoras. Apesar da crença comum em contrário, a experiência
da culpa não é totalmente negativa, improdutiva e destrutiva. Vou neste
trabalho ajudar para que saiba como lidar com o sentimento de culpa, aprendendo
a retirar o que lhe serve, a minimizar os danos e a enfrentar a vida por outra
perspetiva.
Essa coisa que chamamos de “Culpa” é o termo que usamos para
os sentimentos negativos que repetidamente sentimos quando cometemos um erro que
consideramos grave, ou quando fazemos algo que gostaríamos de não fazer ou de
não ter de o fazer.
A mente (inconsciente) ativa a preocupação, revê vezes sem
conta as escolhas ou ações e os resultados envolvidos, experienciamos um enorme
sentimento de remorso que, para muitos parece um misto de náusea e um senso
palpável de arrependimento muito significativo.
Sentimento de CULPA: Para o BOM ou para o MAU
Este desconforto de
“opiniões” são percecionados como indesejáveis, pensamentos intrusivos que
geralmente não exercem uma função adaptativa. E muitas vezes eles não são. Mas,
em alguns casos eles são realmente adaptativos, assim como praticamente todos
os mecanismos físicos e mentais nos nossos corpos. Se adotarmos uma perspetiva
evolutiva, os sentimentos de culpa e remorso têm funções adaptativas, têm um
elevado valor de sobrevivência na maioria das situações. No entanto, apesar
disso para alguns de nós, e devido a uma avaliação desadequada e exacerbada das
situações, a culpa e remorso, viram-se contra nós, tornam-se num terrível
problema que assombra a vida e suga a energia e bem-estar.
Não esquecer e a reter: A
culpa e o remorso podem trazer-nos esclarecimento, mas aplicado de forma
inadequada, podem causar-nos complicações. A culpa pode ser saudável, mas
igualmente destrutiva.
Aquilo que dizemos a nós mesmos de forma repetida e
recorrente vais ficando enraizado na nossa mente. O que dizemos a nós mesmos e a forma como
dizemos, na verdade, pode ter efeitos enormes. É como se algumas partes do
nosso interior, os processos mentais
inconscientes ficassem mais sintonizados
com o que dizemos a nós mesmos em silêncio ou em voz alta. É importante ter
cuidado acerca da forma como você diz as coisas para si mesmo quando está a
passar por dificuldades, lutas ou arrependimentos. Deve tentar ter o mesmo
cuidado a falar para si, tal como teria se falasse com um amigo que está a
passar por dificuldades ou que tenha feito algo do qual não se orgulhe.
Para aprofundar
mais este assunto, pondere: Deixe de dizer desculpe, eu não sei, eu não consigo,
comigo tudo acontece, só a mim é…
A CULPA como um PROCESSO MENTAL de ENORME POTENCIAL
Após um acontecimento
significativamente assustador, embaraço ou doloroso, depois de
uma grande dor, um medo, um trauma, uma separação, um grande erro ou o que quer
que o tenha magoado, o cérebro automaticamente inicia uma revisão repetitiva
dos elementos envolvidos. Quando este
processo é ativado, quando ocorre nas nossas mentes é iniciado por processos
inconscientes e vivenciamos isso conscientemente através de sentimentos
indesejáveis e fora do nosso controlo. Esta revisão de experiências significativas são apenas pensamentos indesejados ou memórias
indesejáveis, quando não há sentimento de culpa. Quando existe um sentimento de
culpa ou arrependimento, é porque se acionou o processo repetido de revisão da
situação e consequentemente do sentimento recorrente de culpabilização.
Configurar alarmes e alertas da situação
Os nossos cérebros estão preparados para analisar as
experiências consideradas intensas e “registando-se” na memória todos os
sentimentos desconfortáveis e negativos como elementos, que podem servir como
marcadores no futuro, para “lembrar-nos ” de experiências passadas, na
esperança de podermos agir de forma mais adequada na próxima vez. Por exemplo,
ao caminharmos por uma parte específica da cidade, se formos ameaçados ou
atacados, provavelmente posteriormente teremos de lidar com um monte de
memórias indesejadas, da próxima vez que começarmos a ir novamente nessa
direção, mesmo que realmente não nos lembre-mos do que tinha acontecido, uma
espécie de alarme soará na mente.
A reter: A culpa
pode motivar e estimular uma revisão completa de erros, aumentar a vigilância e
cautela no futuro, dar uma sensação de ser responsável e promover a aceitação
social e de estima.
No entanto o sentimento de culpa pode torná-lo emocionalmente desequilibrado, deixá-lo transtornado, diminuir a sua auto-estima, destruir
a sua esperança, fazê-lo sentir-se
estúpido, e vai estragando a sua vida e eventualmente das outras pessoas significativas para si. O sentimento de culpa pode ainda
fazê-lo ficar agarrado ao passado, impossibilitando que continue a levar a
sua vida para a frente e a viver no
presente.
Avaliar as situações com precisão
Ao avaliar com
precisão os erros e situações negativas nas
quais nos encontramos ou estamos atravessando, leva-nos a atravessar um período de tempo onde as memórias e pensamentos emergem nas nossas mentes espontaneamente,
acompanhado de sentimentos de angustia, acionando-se
alarmes de alerta na forma de preocupações. Isso pode ser bom ou pode ser
mau, dependendo de como fazemos uso da experiência sentida. Será que a culpa
contribui para sermos mais inteligentes? Não e Não e Não, porque o ser humano
tem a bênção da linguagem e do pensamento complexo. Com uma
linguagem que pode manipular conceitos e interpretar situações e emoções como
nenhum outro ser vivo. O sentimento de culpa (destrutivo) deve-se ao processo
de revisão e ensaios, que é implementada com a nossa decisão de escolha, depois
de algo negativo ter acontecido. Mas o que nós
ensaiamos na nossa mente, faz a
diferença entre tornarmo-nos mais inteligentes e funcionais ou tornarmo-nos
menos capazes e inadequados.
As perfeitas criaturas que nós seres humanos somos, podemo-nos tornar mais ou menos inteligentes
(com respostas mais ou menos adequadas aos nossos objetivos), porque
sabemos e podemos escolher os elementos que estamos a ligar (“emparelhar”) no nosso processo de raciocínio (forma de
pensar). Por exemplo, analise a situação em que alguém depois de ficar acordado
toda a noite, vai conduzir, é claro previsível
que adormece e tem um acidente. Se ele
usa o processo natural de culpa para ruminar e recriminar-se acerca de ser
irremediavelmente estúpido, e um falhado, ele está a queimar o cérebro
desnecessariamente.
A ideia fundamental, é a de que nada lhe serve estar a usar o seu cérebro para pensar, ferver e ruminar
de forma depreciativa acerca de si mesmo. Ele vai tornar-se mais incapaz do que
antes do acidente. Ou, se perante as mesmas circunstâncias, ele usa o processo
de culpa e recriminação por ter esquecido o pé de coelho da sorte, a água
milagrosa da bruxa lá da terra ou sei lá mais o quê, ele não vai ser mais
esperto e raciocinar de forma mais adequada, provavelmente irá prejudicar-se
ainda mais (isto se assumimos
que o pé de coelho não dá sorte.) Ou, se ele usa medicamentos, álcool, drogas ou
qualquer um dos milhares de “distrações” possíveis para evitar qualquer sentimento de
culpa, ele não vai ser mais inteligente. Perder
a oportunidade de aprender algo realmente importante através da experiência terrível
que foi o acidente de carro, é o que o sentimento de culpa promove, porque irá
aumentar a probabilidade de fazer a
mesma coisa de novo, como fez antes do acidente.
Mas, se ele usa a culpa para censurar-se por não dormir o suficiente e, em
seguida pensar em ir dirigir sonolento, da próxima vez que esses elementos voltarem
a ocorrer juntos, ele vai ficar nervoso
antes de entrar no carro devido à ideia de ir dirigir, ou ele pode até
ficar nervoso na noite em que tiver de permanecer acordado até tarde. Assim,
ele pode ter espatifado um carro, mas ficará muito menos propenso a cometer esse erro novamente. Pelo menos ele retirou algo de positivo e construtivo do seu
infortúnio (aprendeu que irá proteger-se em situações semelhantes no
futuro). Esta é sem dúvida uma forma de pensamento positivo perante uma
situação catastrófica.
TERRÍVEL é o PESO de AUTO-PUNIÇÃO
A grande maioria das pessoas
sentem que devem punir-se com a negação ou com a auto-sabotagem, como punição, quando se sentem “culpados”.
Elas não acreditam que os sentimentos de culpa são castigo suficiente para o
seu mal-estar, e… tudo isto acaba com
uma toma de xanax ou noites sem dormir.
Por vezes, retardar uma recompensa ou uma coisa boa, pode
ajudar a sentir-se menos culpado. Na verdade, isto não passa de uma ilusão. A autopunição,
na grande maioria das vezes pode machucar ainda mais a pessoa que vive com o
sentimento de culpa. Na medida em que a
punição sobrecarrega a mente com o sentimento negativo, toda a aprendizagem
a partir da experiência e do sentimento de negatividade será distorcida ou
perdida. As únicas coisas que realmente são prejudicadas quando a punição é
demasiado dura, são o autorrespeito e consciência. Diminuir o autorrespeito fará aumentar probabilidade da pessoa não se
preocupar em magoar-se. Diminuir a
consciência é o mesmo que diminuir a inteligência. Não se tem uma atitude
muito inteligente (adequada) sendo hostis para nós mesmos, isto faz com que o
nosso padrão mental fique alterado e nos turve a mente.
Quando não aprendemos com os erros
Agora faço a pergunta tão indesejada: Porque razão (por vezes ou quase sempre) não conseguimos aprender com alguns erros que
cometemos na vida? A razão para tal, é
que deixamo-nos turvar por erros de raciocínio. Viramo-nos contra nós numa
altura em que mais nos deveríamos ajudar. Reconhecer
o erro só é benéfico, se depois conseguirmos manter um equilíbrio emocional que jogue a nosso favor. É
necessário que nos coloquemos num estado onde possamos acionar todos os nossos recursos para agir, minimizar
assim o erro, e evitar que volte a
acontecer, ou antecipando novas situações para que não volte a ocorrer.
Muito frequentemente atendo pessoas em Hipno terapia que se
queixam de que as suas vidas parecem estar a desmoronar-se. Elas relatam me ter
mais problemas com a vida à medida que o tempo passa. Invariavelmente dizem-me que acham que deveriam ter aprendido
alguma coisa com a vida e com os erros que cometeram. E na verdade todos nós deveríamos,
mas como as coisas não acontecem como queremos, o melhor que podemos fazer é,
quando tomamos consciência disso, procurar uma forma de não continuar a fazer o
que temos vindo a fazer até à data.
Quando nos viramos contra nós, muitos são os problemas
emocionais que podem emergir, dificultando-nos o raciocínio. No entanto, alerto
para o facto de existir uma mistura de comportamentos e atitudes que aumentam a
vulnerabilidade aos problemas psicológicos e que são:
Auto-punição. Um sentimento de raiva e frustração autodirigido,
que emerge de se pensar que os sentimentos de
culpa não são suficientemente punitivos.
Auto-avaliação depreciativa. uma
avaliação negativa acerca de si mesmo, depreciando o seu carácter e
inteligência ao invés de avaliar a situação e comportamentos que levaram ao
problema.
Os problemas tornam-se preocupantes por mau uso do
sentimento de culpa. Quando nos fundimos a alguns dos nossos sentimentos, e
passamos a agir exclusivamente de acordo com eles, corremos o risco de tomar decisões que nos prejudicam
porque agimos em modo emocional, deturpando as avaliações e
consequentemente os passos para a solução.
veja: Consultas de Psicoterapia e Hipnose Clínica. Tel: 966583121