Um estudo francês sobre o rendimento escolar que foi
apresentado recentemente demonstra que o insucesso escolar é mais visível nas
crianças cujos pais estão separados. Este estudo efetuado pelo Instituto
Nacional de Estudos Demográficos (INED) francês quantificou, pela primeira vez,
as diferenças que se estabelecem entre o rendimento dos filhos de pais
separados e o dos miúdos que ainda vivem com o pai
e com a mãe. O insucesso
escolar é mais visível nas crianças cujos pais estão separados. Esta é a principal
conclusão de um estudo efetuado pelo Instituto Nacional de Estudos Demográficos
(INED) francês, que quantificou, pela primeira vez, as diferenças que se
estabelecem entre o rendimento dos filhos de pais separados e o dos miúdos que
ainda vivem com o pai e com a mãe. Intitulado "Separação e divórcio:
que
consequências no sucesso escolar das crianças?", o estudo foi coordenado
pelo demógrafo Paul Archambault e foi esta semana divulgado pelo jornal
"Le Monde". Ao diário francês, Paul Archambault começa por referir
que, para além de se ter banalizado, "a situação de filhos de pais
separados é, sem dúvida, mais bem aceite em termos sociais". Esta
constatação poderia levar a pensar que os efeitos do divórcio estão agora mais
atenuados e que não perturbam da mesma maneira as "performances"
escolares. Só que, como concluiu o investigador, "a realidade verificada é
completamente diferente". “A proporção de crianças que vivem uma transição
familiar não pára de aumentar", lê-se no estudo do INED. Basta olhar para
os números: nos dias de hoje, quatro em cada dez casais franceses divorciam-se
em Paris, um em cada dois casamentos termina em rutura. Uma vez vulgarizado o
divórcio e mais aceites as recomposições familiares, "são notórias as
diferenças no rendimento escolar entre as crianças que viveram a separação dos
seus pais antes da idade da maioridade e as que viram preservada a união"
dos progenitores, adianta Archambault. Qualquer que seja a origem social e
cultural das famílias, "a separação dos pais antes da maioridade reduz, em
média, a duração dos estudos dos filhos entre seis meses a mais do que um
ano", nota o investigador. Nas classes mais populares, o divórcio ou a
separação dos pais reduz as hipóteses de as crianças obterem o ensino
secundário, enquanto que nos meios mais
favorecidos são os estudos superiores os mais afetados. Nas famílias de origem
mais modesta, a taxa de obtenção do diploma do secundário ou de estudos
superiores baixa de 53 para 30 por cento nos casos de separação. Os filhos de
operários, por exemplo, têm 50 por cento de hipóteses de deixar o sistema
escolar sem nenhum diploma quando os pais estão separados - um número que desce
para os 37 por cento quando os progenitores permanecem juntos. Ao longo do seu
estudo, Archambault sublinha ainda que as incidências do divórcio na
escolaridade são menos importantes nos casos de recomposição familiar, ou seja,
quando um dos pais encontra um novo companheiro. Nestes casos, nota o
demógrafo, "efetua-se uma recomposição económica, que assegura uma escolaridade
pelo menos até ao fim do secundário". Nas famílias monoparentais,
continua, "há muitos problemas financeiros" que, não raras vezes,
impedem o prosseguimento de estudos. Talvez por isso, prossegue Archambault,
citado pelo "Le Monde", verifica-se que "os jovens que viveram a
separação dos pais deixam mais precocemente o meio familiar, em média dois anos
mais cedo". Os depoimentos recolhidos
pelo Le Monde a alguns professores
confirma o estudo que evidencia que “as separações
(dos pais) influenciam negativamente
a vida dos alunos”. Pascaline Perrot, diretora de uma escola primária "As separações
influenciam sempre a vida dos alunos. E os pais têm consciência disso. Às
vezes, os próprios pais vêm juntos informar-nos que vão separar-se. Há sempre
nos miúdos alterações de comportamento, mesmo numa separação amigável. Há
sempre uma fase de tristeza e de agitação. O período mais doloroso é aquele
durante o qual as crianças não falam sobre o assunto. Quando os pais informam a
escola de que vão separar-se, as crianças já podem falar sobre isso e assim
sentem-se melhor. O que mais ajuda as crianças é que esta é uma situação cada
vez mais frequente, há cada vez mais colegas
a viver o mesmo problema."
Marie-Laure Baehr, diretora escolar "Entre os professores, falamos
muito sobre as separações dos pais. É um assunto que nos preocupa porque há
cada vez mais separações. Mesmo que os alunos não tenham problemas escolares,
há sempre sinais que nos mostram que eles estão
a sofrer. Alguns sentem-se
culpados, outros isolam-se, outros tornam-se agressivos e insolentes.
Demonstram uma grande necessidade de ser compreendidos." Céline Rigo,
professora de História e Geografia "Às vezes apercebemo-nos das separações
devido às ausências repetidas às quartas feiras e
aos sábados, quando as crianças vão passar os dias com um dos pais. Às vezes
justificam-se com isso para não terem feito os trabalhos, por exemplo. Nalgumas
crianças descobrimos por acaso, porque elas lidam bem com a situação. Noutras,
a situação é muito visível, mesmo fisicamente: deixam de se lavar, usam roupas
sujas... Outros, quando têm uma boa nota, vêm ter connosco para mostrá-la,
porque em casa não
há muito tempo para serem ouvidos. Às vezes, somos pais de
substituição."
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